sábado, 16 de junho de 2012

Em pleno verão de 1922, os dias 13, 15 e 17 de fevereiro foram os mais efervescentes a ponto de alçar a cultura brasileira a uma nova estatura, cuja proposta de torná-la original, aproveitando-se dos elementos essenciais à nossa identidade cultural
Tupi or not Tupi? Marcar um país em busca de uma identidade cultural não parecia se tratar de tarefa fácil; mesmo se, esse país fosse o Brasil, pouco menos de cem anos após tornar-se independente da metrópole portuguesa e outros poucos mais de trinta de uma nação republicana. Coube aos filhos dos representantes da aristocracia paulistana o repúdio à influência francófona em pleno verão de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.



Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Paulo Prado, Patrícia Galvão (Pagu), Menotti Del Picchia e Plínio Salgado organizaram a Semana de Arte Moderna de 1922 sob a responsabilidade de introduzir os valores culturais brasileiros nos moldes do Modernismo. A antropofagia arrastou todos os elementos que podiam estar ao alcance daqueles que ambicionaram mostrar o caráter do povo tupiniquim.

A poesia concreta adornada de seus elementos imagéticos e polifônicos vinham a reboque de um conceito literário pré-estabelecido nos anais burgueses de Paris dos séculos XVIII e XIX. Em busca de um tempo perdido, Oswald voltou de uma temporada europeia aonde foi tomado por ideias fervilhantes; deu voz a uma certa sociedade pau-brasil. Ainda no campo literário, Mário de Andrade, publicou, em 1928, sua obra de maior repercussão – Macunaíma - narrativa estrutura sobre um retrato expressionista sobre o anti-herói brasileiro.

Com a força do clima tropical, da mistura de povos e da estrutura econômica predominantemente rural, as artes visuais apoiaram-se nos seus pilares antropofágicos de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. A expansão cafeeira no interior paulista e os resquícios do regime escravagista para os trabalhadores das plantações foram panos de fundo para as pinturas mais emblemáticas do movimento, como A Boba e Tropical, de Anita e Abaporu, de Tarsila.




Heitor Villa-Lobos, nosso maestro mais prestigiado, encerrou a Semana com a apresentação de sua obra Bachianas Brasileiras nº 5, misturando a erudição com a liberdade do cancioneiro popular brasileiro. Foi mal entendido pelo público, que, ora o vaiou, ora o aplaudiu ao final da apresentação.

São Paulo já era economicamente a capital mais próspera e independente do país naquela época, suficiente para organizar um marco cultural. Paulo Prado, grande cafeicultor e intelectual influente, patrocinou o movimento sabido da ambigüidade manifesta – a convicção de uma expressão originalmente brasileira, mas, sobretudo, a dúvida da extensão de tal projeto, o qual, admitamos, esboçou ser pretensioso para o período.



Diante das contradições deixadas pelas apresentações dos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, fica a precisão do processo de formação criativa de um país que incorpora tão bem a convivência e fusão de povos e, principalmente, de manifestações artísticas. Melhor dizendo – o jeitinho brasileiro de fazer arte e cultura. 
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