quinta-feira, 19 de julho de 2012

Filho de Nati Cortez no lançamento de "O Velho Imigrante".

 Na noite do dia 4 p.p., no salão de solenidades da Academia de Letras do RN, o escritor e advogado Carlos Roberto de Miranda Gomes, lançou o livro "O Velho Imigrante", um ensaio biográfico do seu sogro, o italiano Rocco Rosso, uma das testemunhas da história do crescimento urbano e cultural de Natal, a partir dos anos vinte do século passado. Rocco era fotógrafo e deixou uma foto em que aparecem pilotos franceses em Natal, sendo que um deles seria Antoine de Saint-Exupéry. Caso seja confirmada a versão, ela viria assegurar a presença de Exupéry em Natal, como executivo da empresa de aviação francesa Latécoère, nos idos de 1927/30. Minha mãe, Nati Cortez, afirmou que Exupéry esteve no restaurante Mar e Terra, na Ribeira, juntamente com outros pilotos.
Abaixo, crônica de Franklin Jorge, escritor e jornalista de Natal sobre o livro de Carlos Gomes.
FRANKLIN JORGE
Jornalista
▶ franklinjorge@yahoo.com.br
O velho imigrante. Carlos Roberto de Miranda Gomes dá-nos, na biografia de seu sogro, o italiano Rocco Rosso, do primeiro staff da aviação no Rio Grande do Norte. Sua vida, aqui, sempre esteve associada à aviação em Natal. É um livro que se fazia esperar pelos que amam a sua cidade, ao mesmo tempo em que enriquece as fontes de referência.
O professor Carlos Gomes é um exemplo de genro. Deu provas, até, de uma devoção filial à memória do genro, quando ainda prevaleciam velhos valores. Deu vida a um morto.
Conheci o velho Rocco Rosso, uma tarde, ao entrevistá-lo para a Tribuna do Norte. Morava num dos bairros mais característicos e por muitos anos isolado como uma cidadela que teve ao pé o Rio do Baldo, e as matas nativas.
Conversamos por longo tempo em sua oficina, no fundo da casa achalezada da Rua Meira e Sá 118, onde sempre morou e de onde nunca saiu, em Natal,  repositório de um rico arquivo e de álbuns de recortes que constituam uma crônica de Natal e da aviação no mundo. Toda uma hemeroteca sobre a passagem de Amélia, aviadora americana, curiosidades. Chegou a armazenar 3.000 recortes com a resenha dos registros da chegada de italianos a diversas partes do Brasil. Além disso, deixou escritos sob a forma de poemas o seu amor ao Brasil e a saudade que senta de seu pequeno país natal.
Relembrou sua chegada a Natal, a cidade que o acolheu, a amizade com Cascudo, na fase heroica do movimento aviatório e durante as transformações históricas pelas quais passava o mundo. Seu nascimento, em seis de setembro de 1899, na província de Salerno. Em 1915 foi convocado para o Exército Italiano. Combateu na primeira grande guerra mundial.
Chegou ao Brasil em 1926, aportando no Rio de Janeiro, a bordo do vapor Rei Victorio, em 11 de setembro. Casou-se com Rosa Lovisi e deixou descendência conceituada.
Era um homem alto, magro e íntegro aos noventa anos, quando o conheci. Quis saber de sua velha amizade com Luis da Câmara Cascudo. Quis saber de Natal e dos costumes da cidade. Frequentou o Café Canjica com Cascudo, também frequentado por Saint-Exupéry, pertencente à avó da futura escritora Nati Cortez.
Cascudo era muito conversador e gostava de perguntar. Conversavam sobre os noticiários internacionais e, um dia, presenteou o amigo italiano com o que Rocco Rosso chamava de “apanhado sobre a aviação em Natal”. O original do que, anos depois, seria “No rasto no avião”.
Quis saber se ainda tinha em seu poder esse manuscrito que ele desencavou da papelada. datilografado em papel duma cor imprecisa. Logo percebi tratar-se de um livro raro e desconhecido, saído daquele portento intelectual. Fiquei com esse manuscrito, por um ano, em meu poder, num tempo em que vivi a Rua Beberibe. Rocco Rosso, oriundo de Cassaleto Spartano, filho único de Raquele Rosso e Eugênio Rosso. Ao chegar ao Brasil foi morar em Juiz de Fora.
Ao devolver-lhe o manuscrito, disse-lhe que ele tinha em mãos um importante documento da história no mundo, isto é, em Natal, cidade estratégica para o movimento aviatório. Disse-lhe mais, que era um livro; um desses livros perdidos de Cascudo, escritor generoso que frequentemente emprestava, como certa vez emprestou a Nati Cortez um precioso dicionário de Tupi-Guarani. Perdeu os originais de uma História do Ceará-Mirim que era do conhecimento de Jorge Amado. Quando o visitou em 1978, em minha companhia, lembrou desse livro e cobrou-lhe a publicação. Cascudo fez-lhe a crônica desse desaparecimento, nefasto para a cultura do Rio Grande do Norte.
Eis o livro que faltava nessa rica existência de Natal. E o seu autor, Carlos Roberto de Miranda Gomes, genro exemplar de Rocco Rosso, acrescenta às pesquisas, esse registro que se junta a sua minuciosa história da seção local da Ordem dos Advogados do Brasil. Obra sobre a qual ainda não escrevi o artigo que bem merece.
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