quinta-feira, 28 de março de 2013


"Patrono dos malditos", Sardan prepara novo livro

Tribuna do Norte
Publicação: 28 de Março de 2013 às 00:00

Carlos Felipe Saldanha, mais conhecido no meio literário como Zuca Sardan, chega em 2013 aos 80 anos com fôlego de menino.  Domingo de céu claro, mas com os termômetros alemães marcando dois graus abaixo de zero, o escritor participou de uma mesa-redonda organizada pela Secretaria de Cultura e pelo Fórum de Filosofia de Kelkheim, a 23 quilômetros de Frankfurt.
F. tadeu/dwelleUm dos festejados poetas da geração 70, Zuca Sardan lançará em julho o livro XimerixUm dos festejados poetas da geração 70, Zuca Sardan lançará em julho o livro Ximerix

Tendo como tema Reisende Diebe – Brasiliens Poesie und Philosophie (Ladrões Itinerantes – A poesia e a filosofia do Brasil), o descontraído encontro de Zuca com os alemães foi inspirado na coletânea de poesia brasileira Ladrões itinerantes, lançada em 2001 pela editora P. Kirchheim Verlag, de Munique. O livro foi organizado pela tradutora Ellen Spielmann. Além de Zuca Sardan, há poetas como Ana César, Paulo Leminski, Hilda Hilst, José Paulo Paes e Adélia Prado.

A mesa-redonda, que teve a moderação de Andreas Fornefett e a tradução de Michael Kegler, que verteu as palavras de Zuca para o alemão, acabou se tornando uma palestra bem humorada e sem maiores rigores históricos, com o inspirado poeta abordando o Brasil desde os tempos coloniais até meados da década de 60, quando vivia no Brasil.

Em duas horas de preleção, o autor brasileiro traçou um quadro das configurações político-filosóficas que resultaram na formação da cultura brasileira, num discurso cheio de ironia, como é de seu feitio.  Para explicar a identidade da elite brasileira como sendo portugueses ultramarinos, Zuca não poupou criatividade: “Quando Napoleão invadiu Portugal, dom João 6º, que tinha ar de burro e gostava de imitar seu próprio personagem de burro, veio com toda a corte, entrando com as caravelas no Brasil. Mas dom João não ficou em Salvador, que era a capital do país. Foi para o Rio de Janeiro, capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. E Napoleão, em suas memórias, disse ‘o único homem que conseguiu me enganar  foi dom João 6º’”.

Desenho e poesia

Apesar de pouco conhecido no Brasil, Zuca Sardan é um escritor e desenhista festejado por críticos literários de peso, como Flora Süssekind e Heloísa Buarque de Hollanda. Foi Heloísa que revelou a poesia de Zuca para um público maior, com sua antológica edição 26 Poetas Hoje, que saiu em 1975. Nela estavam também Geraldo Carneiro, Chacal, Waly Salomão, Torquato Neto, Ana Cristina César, Cacaso (Antonio Carlos de Brito), entre outros da cena alternativa dos anos 70.

Diplomado em Arquitetura, Zuca Sardan começou a trabalhar para o Ministério das Relações Exteriores já em 1963. Serviu como diplomata na Argélia, República Dominicana, Estados Unidos, União Soviética, Holanda e Alemanha. Hoje vive em Hamburgo. Se o emprego no Itamaraty o afastou da cena literária de sua geração, a vida no exterior continua a render muita matéria-prima.

Próximo livro

À DW Brasil, Sardan disse que a editora Cosac Naify vai lançar seu mais novo livro, Ximerix, em julho. E deu detalhes do que se trata: “Eu pego as poesias, retrabalho 40 vezes, vou recolando. O aluno que cola bem se subordina à palavra do CDF. Mas o colador de estilo não quer que o professor perceba que ele colou. Foi reciclagem que virou matéria original.” Eterno admirador do surrealista alemão Max Ernst, Zuca Sardan também se reinventa em colagens: “Pego naco de jornal, viro a notícia às avessas, assim como o anúncio da farmácia. Viro tudo”.

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