sábado, 19 de julho de 2014

Exupéry em Natal.



 Antoine de Saint-Exupéry em Natal

14/02/2005,


* Luiz Gonzaga Cortez.
Deve-se à última edição do mensário literário O GALO ( junho/2000, Ano XI, n. 05), através de artigo traduzido pelo jornalista Nelson Patriota – “Saint-Exupéry, o mito levanta vôo” – as mais recentes pistas e fontes para se pesquisar sobre as andanças do famoso aviador e escritor francês pela América do Sul e África. O artigo revela que uma irmã dele, Simone (1898-1978), e a viúva, Consuelo, deixaram um livro inacabado e um manuscrito intitulado “Mémoires de la rose” ( “Memórias da rosa”), respectivamente, entre outras novas obras. São novos caminhos para se pesquisar. E mais: quem quiser se aprofundar nas pesquisas pode se dirigir a uma fundação de Paris que mantém o “Espace Saint-Exupéry”, telefone 0143225890, em Paris. Mais: a Internet tem dezenas se páginas sobre Exupéry.
Apesar de não ter se encontrado documentos da empresa Latécoère, da Air France e de órgãos aeronáuticos brasileiros sobre a presença do aviador Antoine de Saint-Exupéry no Brasil, não há dúvida que ele esteve em Natal e em outras cidades que serviram de bases de apoios e/ou escritório da empresa Aeroposta Argentina, uma subsidiária da Laté, antecessora da Air France. Pery Lamartine de Faria ( Epopéia nos Ares, 1995,p.65) e Nilo Pereira (este é autor do artigo “Conheci Saint-Exupéry em Natal”, Tribuna do Norte, p.3, Caderno de Domingo, 14.04.1985) já publicaram artigos com depoimentos de testemunhas oculares da presença de Exupéry em Natal. Segundo Pery, o que dificulta as pesquisa é o fato de que na década de 20,os pilotos franceses e brasileiros não relatavam seus vôos. “O campo de Parnamirim, que pertencia à Latécoère, não deixou nenhum documentos sobre os pousos das aeronaves naquele local”, disse o escritor Pery.
Não temos provas documentais que Exupéry veio de avião ou de navio para Natal, mas veio. O resto é papo furado, inclusive essa versão de que ele passou pelo Brasil num navio, em direção à Argentina. O que pasma é que nunca um pesquisador do Rio Grande do Norte pesquisou no Museu da Air France, em Paris, ou em outras instituições francesas. Só andaram pesquisando em livros e jornais da província dos Xarias e Canguleiros. Mas, nem tudo está perdido, pois, por telefone,uma pesquisadora brasileira, residente em Paris, me disse que está pesquisando o assunto.
Se Jacques Maigne, autor de brilhante reportagem publicada na revista “Air France Magazine”, número 16, de agosto de 1998, diz que Exupéry foi um dos comandantes dos aviões das primeiros linhas aéreas da América do Sul ( o pioneiro foi Paul Vachet e Jean Mermoz, o recordista na travessia do Oceano Atlântico, no vôo Dacar-Natal, em 12 de maio de 1930, no Laté 28), há indícios de que o autor de Vôo Noturno esteve por aqui, já que exerceu o cargo de chefe da Aeropostale( subsidiária da Laté) em Buenos Aires, responsável pelas rotas da América do Sul da Latécoère. E Natal, estava incluída na área supervisionada por Antoine de Saint Exupéry. O jornalista Franklin Jorge conversou muito com Nati Cortez, pessoalmente, na rua Felipe Camarão, nos anos oitenta, sobre a presença dos pilotos franceses em Natal nos anos 20/30.
Um colunista disse que eu agora estava metido na história do RN e que a minha mãe não deixou nada registrado sobre Exupéry em Natal. Ando metido na história desta província há muitos anos, mas somente publiquei um livro sobre “Pequena História do Integralismo do RN” (Fundação José Augusto-Clima, Natal,1986). E graças a Pery, na semana passada, encontrei o original do depoimento manuscrito deixado por Maria Natividade Cortez Gomes, minha mãe, cuja cópia está comigo.
A transcrição literal é literal, sem correções: “Antoine St. Exupery em Natal.
A companhia de aviação francesa, a Latecoere, chegou aqui em Natal em 1919. Em fins de 1927, eu e mamãe, ( minha avó e mãe de criação, Josefa Aguiar) voltamos do Rio de Janeiro, onde passamos uma temporada. Mamãe teve então a feliz idéia de montar um bar e restaurante. A casa era grande, (duas casas conjugadas) prestando-se para isto. Ficava situada na rua Frei Miguelinho, bairro da Ribeira. O restaurante começou então a ser frequentado não só pelos pilotos da Laté que eram brancos, como pela tripulação dos “avisos”, que eram pretos vindos de Dakar. Os aviões eram anfíbios, baixavam no rio Potengi. Os negros eram na sua grande maioria das colônias portuguesas da África. No movimento do bar e restaurante, que era intenso, principiei a falar com os franceses, já que eu tinha uns rudimentos do francez que aprendi com o dr. Adauto Câmara, na Escola Vigário Bartolomeu, situada na Cidade Alta.
Atendendo a uns e a outros, apesar de ser muito nova ( tinha treze anos nesse tempo) notei que, quando chegava um certo piloto por nome Antoine, os outros aproximavam-se, fazendo uma roda em torno dele. Eu, no auge da curiosidade, também ia apreciar a conversa daquele piloto da Laté que denotava possuir uma vasta cultura. Do que ele falava, não me recordo, mas ficou gravada na minha lembrança sua figura brilhante.
Conhecí outros pilotos, inclusive Raimonde e Sidifal. Tive até de receber cartões postais vindos de Dakar, onde falavam muito no nome de Mademoiselle Nati. Ainda hoje conservo estes cartões como recordação da passagem da Latecoere em Natal. Depois de casada, lendo “O Pequeno Príncipe” e “Correio do Sul”, tive a intuição que aquele Antoine era, nada mais nada menos, do que St. Exupery. Até que um dia, vendo uma foto de Antoine num jornal do Rio, verifiquei que era ele mesmo. Natal, 12/6/1984. Nati Cortez”.
Eis aí o depoimento deixado por dona Nati, sem correções. Dos cartões que ela se refere, encontrei dois, mas oferecido pelo piloto Edmond, do “Revigny”, de um “aviso” (embarcação de apoio aos vôos sobre o Atlântico). Também achei cartões postais com as fotos dos ases da aviação da época, como Newton Braga, Sarmento de Beires, Ribeiro de Barros ( o do Jahú, em 1927) e Vasco Cinquine, que eram vendidos pelo Photo “Elite”, de Natal. Na verdade, há muita conversa fiada e fértil imaginação entre alguns que se arvoram a falar desse assunto.
Luiz Gonzaga Cortez é jornalista
e sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN desde 1983.

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