terça-feira, 18 de novembro de 2014


De volta pro aconchego

Publicação: 2014-11-18 00:00:00 | Comentários: 0Tribuna do Norte



Yuno Silva, repórter.
Cintia Lopes, editora.

“Isso não procede. Li em algum lugar, mas essa possibilidade não existe”, garantiu Isaura Rosado ao ser perguntada se haveria possibilidade de manter-se à frente da Fundação José Augusto na próxima gestão Estadual. “Ainda não pensei no que fazer depois, tenho outras causas importantes como meus três netos (um deles recém-nascido)”, emendou a secretária Extraordinária de Cultura do Estado. Em entrevista exclusiva para a equipe do VIVER, concedida na última sexta-feira na Fundação José Augusto, Isaura admitiu a vontade de “ir para casa” e de “abraçar a causa da Cultura Popular”; para ela um dos “caminhos naturais para o RN se tornar referência nacional”.
Elisa ElsieSecretária Extraordinária da Cultura durante os últimos quatro anos, Isaura Rosado se prepara para deixar a pasta e “voltar para casa”Secretária Extraordinária da Cultura durante os últimos quatro anos, Isaura Rosado se prepara para deixar a pasta e “voltar para casa”

Hoje, amanhã e próxima quinta-feira (20), Isaura e sua equipe promovem o seminário “Rodas de Conversas: Revisitando Ações Culturais” para debater e avaliar publicamente as ações desenvolvidas pela Fundação José Augusto e Secult/RN. Os encontros são abertos ao público, principalmente para artistas, produtores e demais envolvidos na área cultural, e acontecem no Salão Nobre do Teatro Alberto Maranhão sempre a partir das 15h, na Ribeira. Foram elencados seis eixos temáticos para conduzir o seminário: Gestão Social, Política de Apoio às Artes Visuais, Artes Cênicas, Editais, Museus e Acervos e Bibliotecas, Livros e Leitura. Ao final será produzido um relatório final da atual gestão. A secretária informou que a equipe de transição do governo eleito ainda não procurou a FJA.

A TRIBUNA DO NORTE conversou longamente com Isaura Rosado sobre vários temas que estarão em pauta ao longo desta semana, confira:

Aproveitando o assunto Cultura Popular, esse é/seria o setor que mais recebeu atenção durante sua gestão?
Tivemos uma concentração de atividades na área, que não aparece por que é um setor sem muita visibilidade: lançamos 20 editais para o segmento (incluindo incentivos para circo, Carnaval e ciclo junino), publicamos dez livros (Deífilo Gurgel, mamulengos de Dadi, Fandango de Canguaretama, plantas medicinais). Arrumamos a Casa dos Milagres (no Centro de Turismo), incentivamos o Museu do Vaqueiro (através da Lei Câmara Cascudo); o Agosto da Alegria, o Mérito Deífilo Gurgel, fizemos duas chamada de RPV (patrimônio vivo) para novos mestres receberam ajuda financeira.

Mas os grupos continuam reclamando que falta incentivo, oportunidades para se apresentar, os mestres estão morrendo, a nova geração não se interessa...
Sempre dá pra fazer melhor, ter mais dinheiro, ser mais inventivo. Quatro anos é pouco tempo para mudarmos alguma coisa dentro do sistema público. É sempre uma coisa muito frustrante, gastamos muita energia para conseguir realizar alguma coisa. Se tivesse dinheiro tinha transformado o RN em referência nacional em Cultura Popular, tive muita vontade de fazer isso.

E o Agosto da Alegria?
O primeiro ano deu muito certo, o segundo foi mais difícil, no terceiro praticamente não houve por conta do problema da seca e no quarto, o Governo sem dinheiro, não aconteceu.

A efetivação da Secretaria Estadual de Cultura não aconteceu por que motivo?
Por que não se criou o Sistema (Estadual de Cultura). Demos alguns passos, mas não concluímos: aderimos ao Sistema Nacional e elaboramos o Plano Estadual de Cultura que está na Assembleia Legislativa para votação. Fizemos o Fundo Estadual de Cultura, regulamentamos os Sistemas de Museus e de Bandas de Música, revisamos o Sistema de Biblioteca que já tínhamos. Então demos alguma colaboração.

Mas a Secult/RN não é mais um elo dentro do Sistema? Uma coisa não depende da outra para acontecer. Da mesma forma que o Fundo Estadual de Cultura foi criado.
É. Acho que a própria proximidade minha do Governo limitou um pouco, até por que na minha família essas questões contam.

E quanto ao Fundo Estadual de Cultura (FEC), o que precisa ser reajustado para que funcione de forma plena?
Olha, apesar da boa vontade da governadora Rosalba Ciarlini e da nossa gestão, ele funcionou com muitos poucos recursos. Alcançamos, talvez, uns R$ 4 ou R$ 5 milhões apenas e na própria lei houve um erro ao não se definir um valor fixo: na redação ficou até 2%, como manda a constituição, não estipulamos um valor mínimo. Acredito que as correções serão encaminhadas na próxima gestão.

E sobre o RN Criativo, o que aconteceu que acabou não decolando?
Estava com muitas expectativas com relação ao RN Criativo, e que desse muito certo, pois os profissionais que foram contratados são os melhores do Estado: são pessoas autônomas, responsáveis pelos projetos mais vitoriosos na Cultura do RN, mas quando a iniciativa privada se abraça com a coisa pública as vezes não fica muito satisfeita e acho que isso prejudicou bastante.

Onde entra a iniciativa privada no RN Criativo?
É que todas as pessoas contratadas são da iniciativa privada. São vitoriosas enquanto iniciativa privada, inclusive com apoio das leis de incentivo.

Mas a equipe abriu mão dessa atuação privada para se dedicar ao projeto...
Pois é, mas a velocidade e a forma com que o serviço público funciona não dá as respostas que a iniciativa privada precisa, e isso desagrada. É preciso muita paciência para estar no serviço público.

Faltou a contrapartida do Governo do RN (cerca de R$ 250 mil) para liberar a segunda parcela de recursos do MinC (R$ 850 mil)?
No momento, para o pagamento dos salários, não faltou. Os salários da equipe são todos de responsabilidade do Ministério. O Governo deve uma pequena contrapartida, mas não é específica para isso (pagamento dos salários). Tentamos negociar com o MinC, para que pudessem adiantar a parte deles e postergassem a nossa, mas não deram resposta.

Entrando no assunto obras: a reforma da Biblioteca Câmara Cascudo parou, o Museu da Rampa (obra de responsabilidade da pasta de Turismo com gestão da FJA)...
Vamos começar pelas concluídas: conseguimos concluir o Teatro Adjuto Dias (em Caicó), o Teatro de Assu através da Lei Câmara Cascudo, a Cidade da Criança foi concluída. Quanto a Biblioteca, o Ministério da Cultura está com muitas dificuldades, inclusive financeiras. No começo deste mês estive em Brasília, tentei ser atendida quatro vezes no MinC (pelo setor que controla repasse de verbas de convênios) e o coordenador que se chama Germano Ladeira não pôde me atender, estava doente. Agora ele está de férias, viajando, e quando voltar daqui uns dez dias vou ao Ministério novamente, mas não tenho expectativas nem esperanças. O Museu da Rampa foi engancho burocrático para ajustes no projeto de restauração.

Expectativas de retomar as obras de reforma na Biblioteca ainda este ano?
Não tenho expectativas nem sequer de ser recebida (no MinC), e agora com a saída de Marta Suplicy complica muito mais.

Falando em ações, alguns grupos ainda não receberam o edital Prêmio RN Junino...
É verdade, mas vamos pagar agora em novembro.

Como avalia a Orquestra Sinfônica?
Deu muito certo. Estava parada um ano, um ano meio, uma confusão muito grande. Acho que Linus (o novo maestro) deu uma nova coloração nova, eles não se tornaram uma organização social, mas exercitaram a captação de recursos externos, e o problema que eles tinham de falta de músico solucionamos com estagiários e está fluindo.

O Governo pretende completar a Orquestra com servidores públicos?
Esse entendimento não existe mais, a visão de dançarinos ou músicos como funcionários públicos é ultrapassada. No mundo todo trabalham com contratos temporários que podem ser ou não renovados.

A Fundação José Augusto tem em torno de 400 servidores na ativa, mas precisa de muitos cargos comissionados para funcionar. Como torná-la mais eficiente?
Boa parte está prestes a se aposentar, receberam o Plano de Cargos e Salários, muitos nem e-mail têm, não acompanharam a tecnologia. Espero que a Fundação possa ressurgir na próxima gestão como Secretaria e com novos servidores, os que quiserem ficar. Precisa renovar as pessoas e o próprio espaço físico onde a Fundação funciona. Sei que tem muita gente com vontade de ir para casa como eu.

Balanço de 4 anos
45 Editais lançados para todas as áreas, que totalizam cerca de R$ 5 milhões
7 Milhões de investimentos em obras
6,6 Milhões aprovados pelo Programa RN Sustentável (a ser investido), sendo R$ 1,9 milhão para instalar o planetário (na Cidade da Criança); R$ 2,5 milhões para o Teatro Lauro Monte Filho, em Mossoró; R$ 390 mil para o Museu Café Filho; R$ 380 mil do Memorial Câmara Cascudo (recuperação da estrutura física); R$ 840 mil da Biblioteca; R$ 650 mil para equipamentos.

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