segunda-feira, 24 de agosto de 2015

VELUDO POTY

Como um outro mundo aqui

Carlos Gurgel (gurgelcarlos@outlook.com)

Publicação: 2015-08-22 00:00:00 | Comentários: 0
Tribuna do Norte - Caderno Viver - p.4

Buscar a si mesmo, como um apanhado de histórias. Buscar ao outro, como uma aventura sem limites. Sim, é preciso sair de si. Sair de dentro de si. E se ver na imensidão do cosmos. Como uma ampulheta que rege hinos e os passos de alguém que foi além. De tanto que buscou. De tanto que se deu. Como uma heroina que foi vista, entre estrelas e nuvens. Como uma visionária pessoa. Sim, quando o sentimento explode, são poucas as partículas que permanecem inteiras, sem cortes. Daquelas tão fantasticamente belas. Encantadas por um magnetismo único. Como uma correnteza do amor e de tudo que nos desperta. Assim como se chega em um lugar, e o princípio das coisas, é outro. É outro, porque já não somos os mesmos. Por que nada é simplesmente para o sempre perfeito e irretocável horizonte. Por que já se foi o tempo das conjecturas. Por que saberemos contar aos nossos descendentes a gloriosa noite onde aconteceu tudo que gira. Como um eterno e fundamental resquício do que ainda subitamente possamos crer. É tudo fruto de um feito entre estrelas.

Criaturas e naves estão por aí. Estão por aqui. E nem vemos. E nem sentimos essa outra dimensão. Como se a nós, não fosse possível reconhecer a imensidão do outro. De tudo que gira noutro ritmo. De tudo que gira por sobre outras galáxias. Tão incomensuravelmente rápidas e raras. Tão lapidadas de coragem e visão. Tão íntimas de outras estratégias planetárias. Tudo simplesmente é composto de uma essência completamente mágica. Sim, certamente não estamos sós.

Lá, longe, por sobre a âncora de tudo que sussurra e ressoa, reina e reside um platô de instâncias pedidas. Perfeitamente preciosas e benditas. Lá, onde a sombra do sentimento mais procurado, é tratado como uma questão de pura introspecção cósmica. Abduzido como uma fagulha de tanta luminosidade e sagrada porção que ressuscita milênios e túmulos. Sendo assim, nesse plano, tudo que se toca vida aura. Uma energia única, una. Repleta da imensidão do eterno. Da amplitude de tudo que renasce e glorifica a vida, que se perpétua através da lua, de um outro sol.

Eles estão entre nós, por sobre o coração de Nati Cortez. Uma senhora que teve o ímpeto primevo, presente em boa parte da sua vida, aqui na terra. Esse seu amor, por uma outra raça, evoluída, folheada de outros olhos e passos, sempre despertou nela, uma identidade que ultrapassava as coisas do cotidiano das outras pessoas, dos mesmos seres humanos. De tudo que acontece a nossa volta. Como uma coisa corriqueira e banal. Dona Nati empreendeu uma epopeia, uma odisseia clássica. Permeadas de uma rara coragem. Como uma investigação rodeada de inúmeros procedimentos e descobertas. Como se a lua fosse uma amiga indestrutível. Como se a rua, corresse em uma outra direção. Estudos vertidos através da noite longínqua e plena. Através de persistência de Nati Cortez em afirmar coisas lindas e eternas. Plugadas, pintadas de uma ousadia incomum.

Falar sobre essa senhora é se despir e se dispor a por um pé na lua e outro no cosmos que rege outra interpretação sobre nós mesmos. Porque a pesquisadora Nati, não parte do pressuposto de um ponto. Mas de uma galáxia inteira. Movida à uma quinta dimensão. De outras geografias. De tantos incomensuráveis escritos do além. Saber essas conquistas, é saber de uma outra eternidade.

A preciosa pesquisadora Nati Cortez poucas vezes durante sua existência nessa dimensão terrena foi entendida. Porque na sua época tratar de extra terrenos era bem mais incompreensível do que hoje em dia. Lembro quando passava em frente da sua residência na rua Felipe Camarão, cidade alta, sentia uma emoção sem limites, sobre exatamente o que a professora Nati, estaria fazendo naquele exato momento. Pessoas evoluídas nunca param. Elas são movidas por uma energia que fazem delas, seres completamente ímpares. Completamente revestidos de uma compreensão múltipla, riqueza rara. Como uma árvore cósmica. Sim, professora Nati seria vista por quem professa a mesma ciência,  como uma catalogação de preciosas descobertas e contatos.

Lidar com outros umbrais fez da professora Nati, nossa mais preciosa pérola. Pois a vida de quem vela outros quintais, é como se estivesse sempre esperando outros seres. Revestidos de uma fortaleza imortal. De uma inteiriça e inesquecível fagulha. Daquelas que nos veem e nos protegem da mazela de um olhar instantâneo e sem futuro. Saudemos a professora Nati. Celebremos o seu coração e seu sagrado olhar. Como um poema cósmico e perene. Que professora Nati, seja sempre cultuada como um ser tão vivo e pleno. Que professora Nati, nos presenteie seus ensinamentos como uma concórdia que ultrapassava nossos olhos e se encontram em plena comunhão com o que de mais precioso existe. Entre a linha que demarca o horizonte que liberta corpos e espíritos. Culto do que mais evoluído existe. Sim, outros seres nos olham e nos respeitam. Como está escrito e previsto. Revestidos de ouro e de outras vestimentas noturnas. Que o cosmos, por onde a professora Nati Cortez palmilhou, seja a porta aberta para nossa eternidade. Tão semente viva de outros sentimentos e paixões. Como a molécula do ar que se transforma rapidamente em outros felizes e inesquecíveis sonhos.

domingo, 9 de agosto de 2015

Cabugi, o vulcão do meio-dia

Publicação: 2015-07-22 00:00:00 | Comentários: 0
Tribuna do Norte.
Marcius Cortez
Escritor

O nosso vulcão não é nenhuma celebridade do cinema ou da televisão. Nosso vulcão tampouco é algum jogador de futebol que da noite para o dia foi tosquiado pela erupção da fama. Nosso vulcão, graças ao piedoso Deus, é de verdade, pois é feito de pedra e de magma.

Cabugi, o nosso Pico do Cabugi já foi escrito com jota. Em recente viagem à região, testemunhei como o Cabugi é um valor arraigado no coração da família angicana e lajense. Decerto muitos dos moradores de Angicos e de Lajes quando perguntados se gostariam de ser pássaro,  estrela ou Super-Homem, responderiam sem pestanejar que prefeririam ser simplesmente o Cabugi, existir vulcão que mesmo inativo, mostra-se exuberante ao sol a brincar com os nossos sentidos quando lá de cima, fitamos o horizonte. (No topo do Cabugi, avistam-se dunas e mar).

Os índios chamavam o Cabugi de peito da moça, devido ao formato. Segundo estudiosos, o pico tem apenas 20 milhões de aninhos. Xô, velharia! Espere aí, o vulcão é uma mina de fogo, gelo e água, cem por cento ecológico, cem por cento inexplicável. Vulcão é um acidente geológico e geográfico que dorme à sombra do mistério. O seu irmão, o Vesúvio quando destruiu Pompéia e Herculano no ano de 79 a.C. produziu um enigma que até hoje desafia a ciência. Herculano ficou soterrada pela larva a uma profundidade de 321 metros e diversos manuscritos da biblioteca da cidade, embora carbonizados, foram preservados. Entre eles, há escritos de Epicuro (342 a.C.-271 a.C.). Milagre? Não, não se trata de milagre, pois qual deus se interessaria em preservar Epicuro? O desmantelado herege, o chegado na bagaceira do êxtase pelo êxtase. Para Epicuro, cada pessoa é Deus. Cada um é escolhido pelo Todo-Poderoso para pregar o amor pelo voo livre dos poetas e seresteiros. Não importa que tipo de prazer, pois prazer não tem cor, religião, ideologia, endereço, antecedentes, currículo, ora, ora, prazer é felicidade e ponto final.

Admiro a veneração que a população do Rio Grande do Norte sente por um vulcão que não explodiu, que tem humildes 590 metros de altitude e que foi classificado pelos vulcanólogos como neck (pescoço vulcânico). Por isso, a título de sugestão, pare o carro no acostamento, fite o Cabugi sem pressa e eu aposto que sua mente ficará ocupada por dias seguidos pelo fascínio da beleza da escultura do pico. Ou se você quiser, faça melhor: junte-se a Cícero e a Eudes, os trilheirosdacaatinga@gmail.com, e na companhia deles suba a Serra. Em menos de 3 horas, você estará no bico do seio da moça. É o momento de abrir os braços e de procurar ver a sombra de seu corpo desenhado na rocha. Lá no topo, uma estranha força produz uma repentina visão, a água brota aos borbotões das paredes da pedra quente. Água enriquecida com urânio, água com a potência de uma bomba. Toda a região se converterá outra vez numa imensa mancha branca de algodão, uma festança inundada pelo fole, pela zabumba e pelo rastejar dos pés no forró. Adeus penúria, bye bye pobreza, a vida vai parar de doer. O Potengi se encontrará com o Cabugi formando um só rio em cujas margens a terra semeada e adubada encherá de fartura o bucho da criação e de todo o povo.

No dia seguinte, estando em Angicos, fui visitar o Museu Expedito Alves, a quem sou grato por ele ter me ensinado a dirigir automóvel e foi lá onde encontrei uma mulher setentona que disse que era para eu mirar o Cabugi, pontualmente, ao meio-dia. Ela me garantiu que todo santo dia a essa hora, o pico se transforma numa grande cisterna. "Como se fosse uma cacimba e a água transbordasse", arrematou a meticulosa senhora.

 Eu voltei para o hotel. A noite foi de muita chuva. Ao amanhecer, o temporal tinha amainado e já havia um tapete de flores silvestres e uma caravana de papagaios dando vivas à vovó, que instalou no alto do pico uma cisterna cheinha de água, acabando com a triste fotografia dos retirantes nordestinos sem trabalho, com fome e com sede a vagar pelas estradas, procurando um lugar para morar. Finalmente, o pesadelo de Fabiano, Sinhá Vitória, dos dois meninos e da cachorrinha Baleia, personagens de um dos maiores clássicos da literatura brasileira, "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, alcançara o cume da extinção.

(Esta crônica é dedicada à Woden Madruga, o nosso homem da chuva).