sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Nati Cortez.

“JORNAL DA SAUDADE – Natal do meu tempo de menina”



Quem visita a cidade de Natal de hoje com seus suntuosos prédios à beira mar  abraçando turistas de muitas partes do mundo ou vê se maravilha com prédios de 35 andares que se interligam de uma torre à outra por uma passarela de pedestres, nem imagina o que fora a cidade descrita no livro “Jornal da Saudade – Natal do meu tempo de menina”, da escritora potiguar Nati Cortez, uma autodidata que se fundiu em uma simbiose de pintora, atriz e outras diversas atividades artísticas e culturais na pequena vila de pescadores do século XIX. Nati Cortez nasceu e foi batizada com o nome de Maria Natividade Cortez Gomes, em 8 de setembro 1914. Era autodidata e publicou sua primeira obra aos 57 anos, no dia 20 de janeiro de 1971, com o título “Diálogo com as Estrelas ou o Mistério dos Discos Voadores”, em estilo teatral. Nati Cortez, pela descrição que faz de si mesmo, era intensa em tudo o que fazia.

Deixei-me levar pelas mãos e percorri a Natal do século XIX, com a autora, visitei ruas da cidade potiguar de pouco menos de 40 mil habitantes, becos, vilas e vielas da então vila de pescadores e não me cansei. A caminhada foi linda e suave, com descrições magníficas, com nomes de pessoas. Li que Nati Cortez foi preciosa em detalhes e seus filhos, genros, novas, netos e bisnetos decidiram presenteá-la com a publicação de seu livro “Jornal da Saudade -Natal do meu tempo de menina”, lançado a partir das 17:30 horas, do dia 31 de outubro de 2014, na Academia Norte Rio-grandense de letras, na rua Mipibu, 443, no bairro Petrópolis. Mesmo não estando mais presente entre todos os que lá compareceram, Nati Cortez deve ter ficado muito feliz com a publicação de suas memórias relatando sua infância e adolescência na Ribeira, na década de 1920, quando o bairro era um dos mais importantes da capital. Hoje, a Ponta Negra, com prédios luxuosos substituiu o bucolismo, a tranquilidade e a paz vivida e da vila de pescadores descrita por Nati Cortez. Hoje, o Tirol é um dos mais importantes e ela faz citações sobre ele, também com como parte de uma vila de pescadores. Nem por isso, é um dos locais mais badalados de Natal!

-Ah, tempos saudosos aqueles! Suspira Rizolete Fernandes, no prefácio do livro, acrescentando que “a infância, época em que a criatura mais desfruta da vida, decorria num ambiente sadio e alegre”! Depois, descreve que “Natividade passou a infância nas ruas da Ribeira e adjacências, com a Sanchet (atual Duque de Caxias), Pe. José Penha, na Praça Bom Leão XIII, próxima à Igreja Jesus, a Dr. Barata, a Silva Jardim e a Rua do Triunfo, com sua Travessa: que das  últimas, ela esbanja memória ao citar, um por um, os nomes dos antigos moradores, seus vizinhos, a que não perdia aos domingos, as brincadeiras de rua, como o “pau-de-sebo” ou o “gato no pote, realizadas na Silva Jardim, onde doces, para amendoeiras forneciam sombra farta  frutos  doces para delícia da garotada”.

No livro JORNAL DA SAUDADE – Natal do meu tempo de menina”, a autora relata, com uma qualidade de detalhes de quem viveu e captou nas lentes fotográficas de sua memória, os detalhes das festas juninas na casa de sua madrinha Umbalina Gonçalves, as brincadeiras com as amiguinhas “cantando e dançando com requebros e meneios de corpo...todas enfeitadas com coroas de plantas silvestres”, como descreve a prefaciadora Rizolete Fernandes. Devia ser, naquela época, o que se denomina entre os jovens, hoje, de “festa do arromba”.Nati Cortez foi casada com Manoel Genésio Cortez Gomes e teve 24 filhos. Foi descrita com amiga, intensa e uma pioneira na literatura infantil no Rio Grande do Norte. Conhecida no mundo literário nacional, virou verbete no Dicionário Crítico de Escritores Brasileiros de 2001, de Nelly Novaes Coelho, cantora lírica, saudosista e múltipla como também foi Nati Cortez.



Na obra, Roberto Lima de Souza, ao descrever “a trajetória múltipla de convivência com gerações”, diz garante que distinguiu em Nati Cortez, “duas etapas crescentes. A primeira eu chamo de fase do conhecimento e contato familiar, que vai da infância à adolescência. A segunda é a fase da convivência intelectual na juventude e já na idade adulta.” Diz que “Nati nasceu Maria Natividade” porque viera ao mundo no dia da “Natividade de Nossa Senhora”. Natal daquela época era uma cidade extremamente religiosa. Nati Cortez viveu intensamente tudo o que amava fazer e nos deixou em 1989. “Que pena não ter tido o privilégio de conhecê-la”, diz a prefaciadora e me aproprio da mesma frase para dizer o mesmo! A contracapa do livro é ilustrada com uma pintura realizada no período de infância da autora, cujo trabalho se encontra em Brasília. “Jornal da Saudade – Natal do meu tempo de menina” é parte da coleção de obras publicadas pela União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte, presidida no momento pelo poeta, escritor e cronista Antônio Gosson! “Eu não sabia que doía tanto” fazer essa viagem sem passagem por mais esse túnel do tempo!

Carlos Bezerra

Nenhum comentário:

Postar um comentário